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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Hoje estreiará Dercy

Estreia nesta terça-feira, na Rede Globo, Dercy de Verdade, de Maria Adelaide Amaral. A produção conta a história de Dercy Gonçalves–interpretada por Fafy Siqueira, Heloisa Pérrisé e Luisa Pérríssé–, a mais conhecida (e abusada) comediante brasileira. A minissérie é baseada no livro “Dercy de Cabo a Rabo”, escrito por Maria Adelaide em 1994 e que acaba de ser relançado. Conversei com Maria Adelaide sobre sua relação com Dercy  e a adaptação da vida da comediante para a televisão. Confira:
Quando Dercy a conheceu, disse que gostaria que a senhora fosse filha dela. Como era a relação de vocês?
Nossa relação era próxima, embora morássemos em cidades diferentes. Quando Dercy soube que eu estava me separando, ligou para dar bronca. Eu tinha mais de 50 anos e ela, daquele jeito, dizia que não devia me separar para ficar namorando por aí. Para Dercy, o casamento era mais importante que o amor. Ela era muito conservadora na vida pessoal.
O que mais a surpreendeu quando conheceu Dercy melhor?
Esse puritanismo me surpreendeu. Também me impressionou que ela tivesse mantido tão poucas relações afetivas significativas. Ela jamais admitiria que havia se frustrado numa relação. Ela simplesmente sublimava, transmutava o sentimento. Eu vi essa história de perto, na relação dela com o Homero [Kossak, um homem mais jovem que a encantou, mas de quem tornou-se apenas amiga]. Ela podia estar morrendo por dentro, mas não transparecia. Isso mostra a delicadeza de sua alma, sua elegância.
Quando a senhora começou a transcrever a série de entrevistas que fez com Dercy para o livro, percebeu que ela dava várias versões para o mesmo fato. Como resolveu?
Eu ligava para perguntá-la qual era a versão correta. E ela respondia: ‘Escolhe você.’ Optei pela versão que fazia mais sentido, a que mais combinava com a personalidade delaA minissérie tem apenas 4 capítulos. Qual das histórias presentes no livro mais doeu cortar?
Dercy era maior que a vida. Não penso que cortei histórias presentes no livro, mas que escolhi aquelas que interferiram decisivamente em sua trajetória de vida, começando pela maneira como ela saiu de sua cidade natal. Ser artista era sua única opção e Dercy foi atrás dela.
A senhora considera que Dercy foi injustiçada ou incompreendida?
Ela dizia que, com o livro, eu a dei dignidade. Sempre considerei essa afirmação absurda, mas é fato que ela foi muito injustiçada. Desde a infância, a família, os vizinhos e a cidade inteira tinham preconceito e não a compreendiam. Isso também aconteceu com críticos durante muito tempo. Ela também tinha uma parcela de responsabilidade nessa visão, com algumas atitudes defensivas, até um pouco agressivas. Dercy guardava mágoa de quem a feria. E Dercy foi muito ferida.
Em 2008, a peça que seria estrelada por Fafy Siqueira sobre a vida de Dercy não conseguiu patrocínio para ser realizada. Por quê?
Chegue a ouvir de um possível patrocinador que ele gostaria de ver o nome de sua empresa associado ao dela. Eu reclamei, briguei, mas não houve jeito. Felizmente, ela não estava mais viva. Embora nunca se deixasse abater, sei que isso teria sido devastado para ela.
A minissérie é, então, uma reparação à maneira como Dercy era vista e retratada?
Assim espero. Acredito que o público perceberá que julgá-la apenas como uma artista que falava palavrão é uma visão rãs, simplista da mulher que ela foi de verdade. Uma grande mulher
Fonte: Veja



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